Começam as comemorações do Dia da Consciência Negra em Frutal 

“O Marujo é um lamento, é dança, é alegria e é tristeza. Porque o negro naqueles tempos só podia trabalhar, apanhar e às vezes morrer. Era através dos cânticos e da batida dos tambores do Marujo que o negro manifestava a sua fé, a sua religiosidade e um pouco da sua alegria”. Assim José Elias, Capitão do Grupo José Albino da Silva de Frutal, define o que é o Marujo, manifestação cultural típica dos povos escravizados que ainda resiste mesmo depois de cinco séculos.

Música, falas, danças e um pouco de teatro são alguns dos ingredientes que dão vida a esta tradicional manifestação cultural que ocorre anualmente na nossa cidade e tem como maior expoente o Grupo José Albino da Silva.

Sob o comando do capitão José Elias, os marujos ganham as ruas da cidade, levando seus recitais, música e percussão e promovendo o Reinado uma espécie de peregrinação que sai da Capela de São Benedito em direção à Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo. Em Frutal, nos últimos anos o Reinado passou a ser realizado em 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra.

Os relatos, ora cantados, ora falados retratam o desespero e a dor de deixar a força a Mãe África para vir para um Novo Mundo totalmente hostil e desconhecido. Com grande apelo dramático, as encenações normalmente ocorrem em celebração aos dias santos, seguindo o calendário católico. Em Frutal, por exemplo, as apresentações ocorrem em louvor à Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito. Por isso, os marujos ou usam roupas brancas e azuis em referência ao santo ou usam trajes brancos e rosas em homenagem à santa.

Durante o trajeto além de cantarem, tocarem e encenarem, os marujos conduzem o andor de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário e convidam a população para participar da missa afro que segue integralmente a liturgia da Igreja Católica, mas que conta com alguns elementos da cultura africana. “No fim da missa fazemos um ofertório e entregamos quitutes como pipoca, bolo e licores ao povo que foi convidado por nós para estar ali naquela cerimônia religiosa”, explica Zelinda Maria Elias, presidente Grupo José Albino da Silva de Frutal.

O grupo que mantém vivas as tradições e as raízes africanas, atualmente, está sob o comando do Capitão José Elias e conta com cerca de 35 integrantes. Mas se antes o Marujo era uma manifestação cultural restrita aos homens, agora ela se modernizou e se adaptou aos novos tempos. “Hoje, temos no grupo homens, mulheres, crianças e pessoas de todas as cores e credos”, garante José.

Mas apesar de algumas crianças estarem inseridas no grupo, as novas gerações não parecem muito interessadas nessa tradição cultural secular. “Há um choque com as novas gerações, que às vezes por uma pressão cultural e social, se sentem envergonhadas de suas raízes. Mas é o que sempre digo, o nosso trabalho é mostrar que você só ama aquilo que conhece e não esquece aquilo que ama, se a gente não conhece a nossa história nunca vamos amar e ter orgulho do que somos”, ressalta o capitão dos marujos de Frutal.

Sobre a mudança de data da comemoração do Reinado que agora acontece no dia 20 de novembro, José Elias é enfático. “A Princesa Isabel assinou a Lei Áurea em uma canetada a lápis porque não funcionou, continuamos escravos. Já o 20 de novembro é uma data de protesto, de conscientização porque Zumbi dos Palmares foi morto, decapitado e se tornou um mártir para o povo negro”.

Antes do Reinado que acontece no próximo domingo, dia 20, com saída marcada a partir das 8h da manhã da Capela de São Benedito, será realizado um tríduo nos dias 17, 18 e 19 com um terço sendo realizado às 19h e uma missa sendo promovida às 19h30 também na Capela de São Benedito.

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rdportari

Jornalista, professor universitário, Dr. em Comunicação